Relembre a Carreira de Glória Perez na Globo, a autora que mais trabalho com Tereza Seiblitz

Barriga de Aluguel tem a história de um nascimento de uma criança que as mães protagonistas Ana e Clara (Cássia Kiss e Cláudia Abreu) disputam a maternidade, e a questão é levada aos tribunais. Para estabelecer a decisão final sobre quem tem o direito de ficar com a criança, Glória Perez recorreu à assessoria de três juízes e pediu-lhes que deixassem uma brecha nas sentenças, para justificar, no roteiro, o encaminhamento do processo em três instâncias da Justiça.
A repercussão de “Barriga de Aluguel” foi tanta que o público passou a discutir os direitos das duas mães. A autora criou na novela uma repórter que ia às ruas colher depoimentos do público, que opinava sobre qual das mães deveria ficar com o bebê no final. Também foram entrevistados médicos, psicólogos, padres e personalidades populares.
Depois do sucesso de “Barriga de Aluguel”, Glória Perez voltou ao horário nobre da Globo com a novela “De Corpo e Alma”, em 1992, em que abordou outro tema médico: o transplante e doação de órgãos – na semana de estreia da trama, o Instituto do Coração (Incor) de São Paulo, que estava há dois meses sem uma única doação, recebeu nove órgãos para transplante.  Na novela, a autora também tratou da inversão de papéis entre homens e mulheres, apresentando as boates de strip-tease masculino, e acabou ajudando a popularizar os Clubes de Mulheres, que proliferaram no país.

Mas a movimentação maior foi chocante e misturou ficção com realidade: a morte da jovem atriz Daniela Perez (filha de Glória), assassinada pelo seu colega de elenco Guilherme de Pádua, na noite do dia 28 de dezembro de 1992. Os dois interpretavam um casal romântico da novela. Mesmo abatida pela fatalidade, Glória conduziu a história até o fim e aproveitou para incluir mais dois assuntos polêmicos na trama: a morosidade da Justiça e a inadequação do Código Penal.


Explode Coração” (1995) foi a primeira novela em que Glória Perez apresentou ao público os hábitos e costumes de uma cultura exótica. No caso, a cultura cigana, com danças, figurinos, expressões e bordões que conquistaram o telespectador. Na época, a Internet estava começando a ser difundida no Brasil. A autora apresentou na novela a possibilidade de contato entre duas pessoas através da Internet – uma novidade em 1995. Foi dessa maneira que os protagonistas Dara e Júlio (Tereza Seiblitz e Edson Celulari) se conheceram, logo no início da novela.

Explode Coração” também desenvolveu uma importante campanha de utilidade pública: a busca dasMães da Cinelândia, no Rio de Janeiro, por seus filhos desaparecidos. No meio dos capítulos foram inseridos depoimentos reais das mães. E o encerramento apresentava fotos de crianças desaparecidas. A novela ajudou a localizar mais de 60 crianças afastadas de suas mães.

m 1998 foi ao ar a minissérie “Hilda Furacão” que Glória escreveu a partir do romance de Roberto Drummond. Para a personagem-título foi escalada Ana Paula Arósio, estreando na Globo. Além da própria protagonista, outros personagens reais se destacaram com seus intérpretes, como o travesti Cintura Fina (Matheus Nachtergaele) e a prostituta Maria Tomba-Homem (Rosi Campos).

Pupila de Janete Clair, coube a Glória Perez a incumbência de adaptar um dos maiores sucessos de sua mestra: “Pecado Capital”. Neste remake (no ar entre 1998 e 1999) o triângulo amoroso central foi vivido por Francisco Cuoco – o Carlão da novela original, desta vez como Salviano Lisboa -, Carolina Ferraz, como Lucinha (Betty Faria na década de 1970), e Eduardo Moscovis, que deu vida ao novo Carlão. Mas Cuoco e Carolina Ferraz se mostraram tão fora de sintonia em cena que a autora resolveu criar uma nova personagem para contracenar com Salviano: Laura, interpretada por Vera Fischer.

Entre 2001 e 2002, Glória escreveu sua primeira novela ambientada em um país distante, mostrando uma cultura exótica: “O Clone”. Um grande sucesso da década passada, a história se passava no Rio de Janeiro e no Marrocos e abordava assuntos inéditos na teledramaturgia, como islamismo, clonagem e drogas. Toda a repercussão foi resultado de um elenco bem escalado, da direção cinematográfica deJayme Monjardim e do ineditismo dos temas desenvolvidos por Glória Perez.
Muitos acharam que seria uma insensatez produzir uma novela centrada em temas tão complexos. Essa impressão se reforçou pouco antes da estreia, com os atentados terroristas nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 – que colocou em evidência o fanatismo muçulmano. Glória, no entanto, manteve a certeza de que o folhetim seria um sucesso. E a mistura de drogas, clonagem e cultura árabe passou a ser ainda mais questionada com o advento da guerra contra o terror.
O bordão da Dona Jura (Solange Couto), “né brinquedo não!“, entre outros (“cada mergulho é um flash!“, “bom te ver!“), e expressões do núcleo árabe – como “Maktub“, “Insch’Allah“, “mulher espetaculosa“, “arder no mármore do inferno“, “fazer a exposição da figura” e “jogar ao vento” – se popularizaram.
América”, a trama seguinte de Glória Perez (de 2005), enfrentou uma série de problemas. A incompatibilidade de ideias entre a autora e o diretor de núcleo, Jayme Monjardim, culminou com a substituição dele por Marcos Schechtmann, que deu uma nova cara à novela, trocando inclusive a trilha sonora e a abertura. Também a rejeição da mídia, que diariamente apontava falhas e furos no roteiro da autora.
Apesar dos percalços, “América” tornou-se um sucesso de audiência. Criou-se uma grande expectativa acerca do último capítulo, em que aconteceria o primeiro beijo homossexual masculino das novelas – entre os personagens de Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro. O capítulo bateu recorde de audiência, mas, para a frustração de muitos, a cena, que foi escrita e gravada, não foi apresentada. Também foram abordados na novela: cleptomania, rodeios, deficiência visual, experiência quase-morte, pedofilia na Internet e imigração ilegal nos Estados Unidos.

m 2007 foi ao ar a minissérie “Amazônia, de Galvez a Chico Mendes”, uma superprodução em que Glória Perez abordou três fases da conquista do Acre, em épocas distintas (começando no final do século XIX), abrangendo cem anos da história da região e passando por heróis como o espanhol Luiz Galvez, o militar Plácido de Castro e o seringueiro Chico Mendes (na minissérie, José Wilker, Alexandre Borges e Cássio Gabus Mendes, respectivamente).
A produção passou 72 dias em gravação no norte do país, nos estados do Acre e do Amazonas. Serviram de locações florestas, rios e igarapés, praias, centros históricos e cidades cenográficas. Ao todo, foram mais de 150 profissionais envolvidos na gravação de 350 cenas. Foram enviados do Rio de Janeiro cerca de 20 toneladas de equipamento e mais de 16 mil peças de figurino, confeccionadas especialmente para a minissérie.
Glória fez um apanhado dos costumes e tradições indianas, tratando de temas como o sistema de castas, o casamento arranjado, a longa preparação para um casamento, a questão dos intocáveis (os dálits), além de danças, festivais folclóricos e festas tradicionais e religiosas.
E novamente termos e expressões indianas se tornaram bordões populares: “arrastar o sári no mercado“, “as lamparinas do juízo“, “firanghi ” (pessoa estrangeira), “are baba!” (ai meu Deus!, puxa vida!), “baguan keliê” e “arebaguandi” (meu Deus!),”tchalô!” (vamos!), “atchá!” (expressão de satisfação) e “namastê!” (saudação). “Caminho das Índias” foi a primeira novela brasileira premiada com o Emmy Internacional (o “óscar” da TV americana) de melhor telenovela.
Agora Glória Perez está no ar com uma nova produção que mostra uma cultura exótica: “Salve Jorge”, que se passa no Rio de Janeiro, Turquia e Espanha. Novamente danças e palavras estrangeiras são assimiladas pelo público, bem como os temas de caráter social (tráfico de mulheres no caso), que são a marca registrada de Glória Perez.


No começo de 2013, Glória Perez participou da supervisão de texto da micro-série O Canto da Sereia, baseado na obra de Nelson Motta.










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